domingo, 24 de novembro de 2013

Com frutas

Yuri é um daqueles russos que só estavam esperando o fim do comunismo para ficar multimilionários. Ouvira dizer que o lugar no mundo para se conhecer mulheres sensacionais era o Brasil. Fez um curso rápido de português, o bastante para não se perder ou ser enganado no Rio, e veio.

 *
 No avião a caminho do Rio, Yuri sentou-se ao lado de um brasileiro, e quis a sorte que fosse um brasileiro gaiato. Uma das comissárias de bordo do avião era belíssima e quando começaram a servir o café da manhã antes da aterrissagem no Galeão, Yuri virou-se para seu companheiro de voo e perguntou:
 - Como se diz "quero fazer sexo com você" em português?
 - Iogurte - disse o brasileiro.
 Quando chegou a sua vez de pedir à aeromoça o que queria com seu café, Yuri disse depressa:
 - Iogurte!
 E a aeromoça:
 - Com frutas ou natural?
 E Yuri, radiante, se convenceu que estava vindo para o lugar certo.


 * Relatório. Mateus não era um simplório. Era um homem inteligente e bem informado. O que não significa que não tenha ficado intrigado, sem saber se era verdade mesmo ou brincadeira, quando sua mulher Dalinda disse que tinha recebido um relatório da CIA a seu respeito.
 - Cumé?
 - O serviço de espionagem americano tem seguido todos os seus passos.
 - Que bobagem é essa, Dalinda? Por que os americanos iriam se interessar por mim?
 - Eu pedi.
 - O quê?!
 - Eu pedi. Gravações 24 horas por dia, todos os dias. Neste momento tem um satélite americano contando os seus fios de cabelo.
 - Vai me dizer que a CIA trabalha para você?
 - Eles fazem serviço pra fora. Espionam qualquer um, por uma módica quantia. É uma das maneiras que têm de financiar o programa.
 - De qualquer maneira, eu não fiz nada suspeito. Eles não tem o que espionar.
 - Não é o que diz o relatório.
 - Quero ver esse relatório.
 - Nem pensar.
 - Você está blefando, Dalinda.
 - Acredite o que quiser.

 Matheus deu uma gargalhada. Com quem a Dalinda pensava que estava tratando? Ele não era um simplório. Mas a verdade é que tem ficado mais em casa, cortou os encontros com a Suzette às quintas-feiras e volta e meia olha para o alto, tentando ver alguma coisa.

 Com frutas - Luís Fernando Veríssimo - publicado em 24/11/2013, no jornal O Estado de S.Paulo

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

“Os mais fortes de todos os guerreiros são estes dois: Tempo e Paciência” 
Por  Liev Tolstói - um dos grandes autores da literatura mundial 

domingo, 10 de novembro de 2013


Se você jogar um sapo na água quente, ele certamente pulará fora. Pode ser um sapo, mas sabe que o ambiente é hostil e provoca sofrimento. Porém, se você colocar um sapo na água fria e esquentá-la devagar, aos poucos, ele não perceberá a mudança de temperatura. Quando menos espera, ele morre cozido. Não reage à mudança porque não a percebe. Não entra em crise: entra em marasmo. É o que acontece conosco. Somos salvos pela crise porque reagimos a ela. Caso contrário, morremos lentamente, enganados pelo calorzinho do conforto proporcionado pela estabilidade e pela conformidade. Saia dessa. A crise é um poço com uma mola no fundo. Pule com gosto! Por Eugenio Mussak - Professor, escritor e palestrante especialista em temas relacionados ao comportamento humano e liderança   

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

"Reclama da vida quem está bem, quem está mal serra os dentes e segue em frente."

(Gustavo Zerbino, um dos 16 sobreviventes do acidente aéreo em outubro de 1972 na Cordilheira dos Andes*)

* O  livro “A Sociedade da Neve” (Companhia das Letras), do escritor uruguaio Pablo Vierci, reúne os relatos inéditos e pessoais dos 16 sobreviventes da queda de um avião da Força Aérea do Uruguai, em 1972, numa remota região dos Andes. Estavam a bordo 45 pessoas que viajavam de Montevidéu para Santiago, no Chile, entre elas um time de jogadores de rúgbi. Havia cinco tripulantes. A aeronave chocou-se com os Andes e caiu. Dezesseis pessoas morreram na hora e, dos 29 sobreviventes, 13 foram morrendo ao longo dos 72 dias em que ficaram isolados na montanha. O grupo que conseguiu manter-se vivo o fez alimentando-se da carne de seus companheiros mortos. O fatídico episódio foi retratado em documentário, no cinema (“Vivos”, de Frank Marshall) e na literatura (“Os Sobreviventes – A Tragédia dos Andes”, do inglês Piers Paul Reed). Essa é, no entanto, a primeira vez que todos os 16 sobreviventes concordam em abrir suas tristes e dolorosas recordações. 
Disponível em: http://www.istoe.com.br/reportagens/81149_O+RELATO+INEDITO+DOS+SOBREVIVENTES+DOS+ANDES