segunda-feira, 26 de novembro de 2012

O valioso tempo dos maduros

Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para a frente do que já vivi até agora. Tenho muito mais passado do que futuro.
Sinto-me como aquele menino que recebeu uma bacia de cerejas.
As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.
Já não tenho tempo para lidar com mediocridades.
Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflamados.
Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte. Já não tenho tempo para conversas intermináveis, para discutir assuntos inúteis sobre vidas alheias que nem fazem parte da minha.
Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Detesto fazer acareação de desafectos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário-geral do coral.
'As pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos'.
Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos, quero a essência, minha alma tem pressa...
Sem muitas cerejas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita antes da hora, não foge de sua mortalidade, Caminhar perto de coisas e pessoas de verdade, O essencial faz a vida valer a pena. E para mim, basta o essencial!

Mario de Andrade (1893 - 1945)

domingo, 25 de novembro de 2012

‎"No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim".

Fernando Sabino

terça-feira, 13 de novembro de 2012

Não, nada de nada, não, nao lamento nada.
Nem o bem que me fizeram, nem o mal.
Isso tudo me é igual.
Não, nada de nada...
Não, não lamento nada.
Está tudo pago, varrido, esquecido, não me importa o passado.
Com minhas lembranças, acendi o fogo, minhas mágoas, meus prazeres não preciso mais deles.
Varridos os amores e todos os temores, varridos pra sempre.
Recomeço do zero.


Cena final do filme: "Edith Piaf - Um hino de amor" (2007)



terça-feira, 6 de novembro de 2012

Cara Febea,

“Per ottenere amore tragico ci vuole astuzia. Ma sono appunto gli imcapace de astuzia che hanno sete di amore trágico.”
Cesare Pavese 23/febbrairo de 1938. "Il mestiere di vivere.”


De tudo que vem de você, permanece em mim uma vontade de sorrir. De todos os seus sorrisos, permanece em mim a sua tristeza. De todos os seus enganos, guardo o seu desejo de acertar. De todos os seus acertos, imagino a indiferença dos outros em não reconhecê-los. Imagino também a incapacidade deles para julgar o engano e elogiar o acerto. Nem um nem outro é passível de julgamento. Você é que percebe o que reflete nos olhos dos outros! Quando enganas, sei que queres buscar a verdade. Para mim isso é suficiente. Quando dizes a verdade, não lhe creem É o preço que o mundo oferece. Me sinto capaz de distingui-los em silêncio. Quando encontrar o desespero, pensas na tua tristeza, nos teus enganos, na indiferença dos outros, nas mentiras do mundo, nas verdades buscadas. Corres o perigo de viver neste círculo desumano, para concluir que, talvez, nada vale a pena.

É preciso que tu olhes que os sãos de corpo e espírito amam para depois errar e se desesperar mais tarde, porque se recordam que um dia foram puros de espírito.

Aqueles que já erraram e voltam a receber, um dia, a luz do sol, ou uma gota de chuva, não têm mais medo do erro, nem a recordação de um dia havê-los cometido. O mundo pode agora surgir com sua bela singeleza. As flores têm agora o perfume original de sua castidade.

A vida é um contínuo chegar de esperanças.

Milão, 26 de dezembro de 1966"


Dedicatória do economista e escritor Sylvio Massa de Campos, de 74 anos, ex-executivo da Petrobras, no livro "Nove contos", do americano J.D.Salinger, feita há 46 anos, à esposa, Febea, já falecida.