quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Palavras ao vento

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras

Ando por aí querendo te encontrar
Em cada esquina paro em cada olhar
Deixo a tristeza e trago a esperança em seu lugar
Que o nosso amor pra sempre viva
Minha dádiva
Quero poder jurar que essa paixão jamais será

Palavras apenas
Palavras pequenas
Palavras, momento

Palavras, palavras
Palavras, palavras
Palavras ao vento...

(Cássia Eller - Composição: Marisa Monte / Moraes Moreira)

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Da minha precoce nostalgia...

Quando eu for bem velhinha, espero receber a graça de, num dia de
domingo, me sentar na poltrona da biblioteca e, bebendo um cálice de
Porto, dizer a minha neta:
- Querida, venha cá. Feche a porta com cuidado e sente-se aqui ao meu
lado. Tenho umas coisas pra te contar.
E assim, dizer apontando o indicador para o alto:
- O nome disso não é conselho, isso se chama corroboração!
Eu vivi, ensinei, aprendi, caí, levantei e cheguei a algumas
conclusões. E agora, do alto dos meus 82 anos, com os ossos frágeis a
pele mole e os cabelos brancos, minha alma é o que me resta saudável e
forte.
Por isso, vou colocar mais ou menos assim:
É preciso coragem para ser feliz. Seja valente.
Siga sempre seu coração. Para onde ele for, seu sangue, suas veias e
seus olhos também irão.
E satisfaça seus desejos. Esse é seu direito e obrigação.
Entenda que o tempo é um paciente professor que irá te fazer crescer,
mas a escolha entre ser uma grande menina ou uma menina grande, vai
depender só de você.
Tenha poucos e bons amigos. Tenha filhos. Tenha um jardim. Aproveite
sua casa, mas vá a Fernando de Noronha, a Barcelona e a Austrália.
Cuide bem dos seus dentes.
Experimente, mude, corte os cabelos. Ame. Ame pra valer, mesmo que ele
seja o carteiro.
Não corra o risco de envelhecer dizendo "ah, se eu tivesse feito..."
Tenha uma vida rica de vida.
Vai que o carteiro ganha na loteria - tudo é possível, e o futuro é
imprevisível.
Viva romances de cinema, contos de fada e casos de novela.
Faça sexo, mas não sinta vergonha de preferir fazer amor.
E tome conta sempre da sua reputação, ela é um bem inestimável. Porque
sim, as pessoas comentam, reparam, e se você der chance elas inventam
também detalhes desnecessários.
Se for se casar, faça por amor. Não faça por segurança, carinho ou status.
A sabedoria convencional recomenda que você se case com alguém
parecido com você, mas isso pode ser um saco!
Prefira a recomendação da natureza, que com a justificativa de
aperfeiçoar os genes na reprodução, sugere que você procure alguém
diferente de você. Mas para ter sucesso nessa questão, acredite no
olfato e desconfie da visão. É o seu nariz quem diz a verdade quando o
assunto é paixão.
Faça do fogão, do pente, da caneta, do papel e do armário, seus
instrumentos de criação. Leia.
Pinte, desenhe, escreva. E por favor, dance, dance, dance até o fim,
se não por você, o faça por mim.
Compreenda seus pais. Eles te amam para além da sua imaginação, sempre
fizeram o melhor que puderam, e sempre farão.
Cultive os amigos. Eles são a natureza ao nosso favor e uma das formas
mais raras de amor.
Não cultive as mágoas - porque se tem uma coisa que eu aprendi nessa
vida é que um único pontinho preto num oceano branco deixa tudo cinza.
Era só isso minha querida. Agora é a sua vez. Por favor, encha mais
uma vez minha taça e me conte: como vai você?

(Por Maria Sanz Martins, recebido por e-mail)

domingo, 15 de novembro de 2009

Botando pilha

"O momento de maior crise durante o apagão foi o de procurar, às escuras, duas pilhas AA que fizessem a traquitana funcionar"


Já escrevi aqui, não muito tempo atrás, que o porteiro eletrônico tinha sido a grande invenção do século XX. Precipitei-me. O apagão de terça-feira me fez ver que fui injusto, muito injusto, com a verdadeira grande invenção do último século. E passo a relatar o que me fez mudar de opinião.
O apagão me pegou quando nem bem tinha começado a minha novela mexicana favorita — tá bom, confesso, eu vejo novelas mexicanas. Seria uma noite sem TV.

Fui para o laptop, e cheguei a trocar emails com uma colega da redação: — Sem luz em Copacabana — enviei.

— Aqui no jornal também — ela respondeu.

— Foi em toda a cidade.
Preocupação. Em toda a cidade? Isso é grave. Deixei o correio eletrônico e fui para os sites de notícias. “Rio e São Paulo sofrem apagão”, manchetava um deles. Opa, é mais grave ainda. Não cheguei a ler a notícia pois... acabou a bateria do meu laptop.
Passei a me preocupar com os familiares.
Onde estaria cada um quando as luzes se apagaram? Telefone fixo nem pensar. Depende de energia elétrica. Apelei para o celular... sem sinal! Como é que é? Falta de energia elétrica pode tirar do ar os aparelhos de telefone celular? Alguém tem me enganado há muitos anos.
Como um homem das cavernas, dirigi-me ao único local onde poderia obter alguma informação: a janela.
A vizinha do lado deu a primeira informação: — No Recife tem luz.
Menos mal.
A vizinha de baixo foi mais alarmista: — Niterói e Teresópolis estão sem luz.
Contribuí com a única notícia que tinha obtido nos meus poucos segundos na internet: — Blecaute também em São Paulo.
Acabou o assunto. Voltei para a caverna.
Família que pensa unida resolve os problemas unida. O integrante mais esperto da família lembrou-se de um radinho de pilha perdido em algum lugar da casa. Sempre que falta luz — o que não é tão raro assim aqui no Rio —, eu tomo várias resoluções: comprar uma lanterna, renovar o estoque de velas, adquirir um radinho de pilha.
Nunca fiz nada disso. Mas, já não me lembro por quê, há alguns meses ganhei um brinde — já não me lembro de quem — que era um pequeno alto-falante para laptops. Dependendo do botão que se apertar, o tal altofalante vira rádio. De pilha.
O momento de maior crise durante o apagão foi o de procurar, às escuras, duas pilhas AA que fizessem a traquitana funcionar.
Mais uma vez, a tarefa foi cumprida pelo integrante mais esperto da família. E...
fez-se o som!!!! A partir daí, passei a noite acompanhado do reconfortante som do noticiário de rádio sobre os problema na Itaipu Binacional, em Furnas e, melhor ainda, segui, pouco a pouco, a luz voltando ao Paraguai, a São Paulo, ao Leblon... Não tenho mais dúvidas: o porteiro eletrônico que me desculpe, mas a grande invenção do século XX é o rádio de pilha.


Por Artur Xexéo, pág.76, Revista O Globo, edição de 15/nov/2009.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Citações

"Os tempos primitivos são líricos, os tempos antigos são épicos, os tempos modernos são dramáticos." Victor Hugo (1802-1885), escritor francês.