sexta-feira, 30 de agosto de 2013


Tempo tempo

(Artur Xexéo)
O e-mail chegou cheio de simpatia. “Estamos preparando uma série de matérias sobre o uso do tempo. Vamos falar sobre tempo e trabalho, tempo e família, tempo e comida, tempo e mídia, tempo e lazer. Queria muito um depoimento seu sobre o tempo para publicarmos em um desses dias. Você poderia escrever?” Como era um pedido da Cássia Almeida, não tinha como recusar. Fui rápido na resposta: “Topo, sim.”
Quando minha curta mensagem ainda estava sendo enviada, eu já tinha me arrependido. Onde é que eu vou arranjar tempo para escrever sobre o tempo? Tenho que escrever a coluna de quarta-feira, a de domingo, a do Globo a Mais. Tem uma reunião da série de TV. Tenho que acabar de escrever a peça de teatro que já está atrasada. É preciso elaborar a pauta do telejornal. Tem a versão do musical americano que eu estava deixando para escrever no fim do ano, mas o produtor acaba de me pedir para adiantar três canções para ele sair atrás de patrocínio. A que horas de que dia vou encaixar o artigo sobre o tempo?
Busco inspiração em Caetano. “Compositor de destinos/ Tambor de todos os ritmos/ Tempo tempo tempo tempo/ Entro num acordo contigo.” Será que dá para fazer um acordo? Talvez eliminando algumas horas de sono ou uma ou outra refeição. Bobagem! As horas de sono já foram negociadas faz tempo. Não dá nem mais para citá-las no plural. Quanto às refeições... bem, se ainda fossem as tradicionais três por dia, talvez desse para fazer um acordo. Mas, de uns tempos para cá, qualquer nutricionista ensina que elas devem ocorrer, em pequenas porções, de três em três horas. Resultado: neste quesito, já estou devendo.
A solução pode ser substituir algum momento de lazer pela tarefa da editoria de Economia. Momento de lazer? Há quanto tempo não tenho isso? É sempre possível também atrasar a encomenda. Oscar Wilde, numa das muitas frases geniais que deixou, dizia que “A pontualidade é a ladra do tempo”. Pois, então, evitemos esse roubo. Só que o jornal não espera. Nem a televisão. Nem os produtores de teatro. Não tem jeito. É preciso admitir. Definitivamente, não tenho tempo para escrever sobre o tempo.

Disponível em: http://oglobo.globo.com/economia/tempo-tempo-9711538

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

"O tempo que dispomos cada dia é elástico; as paixões que ressentimos o dilatam; aquelas que nos inspiram o encolhem, e o hábito o preenche"

Marcel Proust (1871-1922), autor da célebre obra
"Em busca do tempo perdido"

sexta-feira, 23 de agosto de 2013

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada,
aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada,
ninguém a rouba mais de mim.

Carlos Drummond de Andrade